Moda e Sustentabilidade - Capítulo 1: Materiais
- Beatriz Verônica, Gabriela Mariano
- 1 de nov. de 2015
- 3 min de leitura
Quando falamos de sustentabilidade na moda, logo, pensamos nos materiais (matéria-prima – fibras têxteis). Porque os materiais são o ponto de partida para o mundo da moda e também para as ideias sustentáveis da mesma.
A transformação, o uso e a demanda (cada vez maior) de materiais estão, de alguma forma, associados as mudanças climáticas, a geração de resíduos, poluição química, perda da biodiversidade, efeitos negativos sobre a saúde humana e efeitos sociais nocivos para as comunidades produtoras.
Além disso, quando utilizamos recursos naturais finitos, sofremos influência no preço e na disponibilidade de materiais, devido o esgotamento das reservas de petróleo (fibras petroquímica), escassez de água (fibras naturais) e a elevação das temperaturas globais transformam o mapa da produção mundial de fibras têxteis.
Entretanto, a escolha por materiais sustentáveis, unicamente, não transforma sozinho a moda, mas é um grande aliado, porque mostra que a mudança é possível.
E como os materiais podem ajudar nessa mudança? Podemos utilizar fibras renováveis, fibras produzidas em melhores condições de trabalho para agricultores e também materiais produzidos com menos desperdício.

Selo do Movimento Social que busca estabelecer preços justos, bem como padrões sociais e ambientais equilibrados nas cadeias produtivas.
Fibras Renováveis e Biodegradáveis
O simples fato de uma fibra ser renovável (conseguir se regenerar-fibras naturais), não garante sua sustentabilidade, pois os "insumos" para a sua produção, como, água, energia e substâncias químicas, impactam de maneira negativa os trabalhadores e o meio ambiente. E existe alguma fibra renovável de baixo impacto? Sim, o liocel, que é uma fibra de celulose regenerada feita de polpa de madeira, hoje consolidada no mercado de moda.
Já as biodegradáveis, são as fibras que conseguem com o auxílio de microorganismos, luz, ar ou água, entrarem em processo de decomposição atóxico e relativamente curto. Como é o caso da fibra de poliéster biodegradável, que apresenta em sua composição, açucares derivados de cultivos agrícolas, que possibilitam uma decomposição correta.
Fibras com baixo uso de energia e baixo consumo de água
As fibras sintéticas apresentam alto uso de energia e baixo consumo de água em sua produção.
As fibras naturais apresentam algumas diferenças. O linho e o cânhamo consomem pouca água e pouca energia, mas o linho possui uma produção cara e o cultivo de cânhamo no Brasil é proibido. Já o algodão - fibra têxtil mais usada no mundo - irrigado artificialmente, consome muita água e energia em sua produção.
Então, a solução, seria a liberação do cultivo de cânhamo, pelo menos no Brasil - pois na Europa a fibra já está disseminado - e o cultivo de algodão irrigado pela chuva, que consome menos água e energia em relação ao algodão irrigado artificialmente.
Fibras que beneficiam os seres humanos
No que se diz respeito aos seres humanos, a sustentabilidade refere-se à saúde, às condições de trabalho, ao acesso a sindicatos e salários dignos. Nas oficinas de corte e costura por exemplo, o grande número de trabalhadores no mesmo lugar pode desencadear diversas irregularidades trabalhistas. Nos algodoais há um grande índice de infecção por pesticidas usados no campo. E no Uzbequistão, o trabalho infantil é bastante utilizado.
Apesar de a sustentabilidade relacionada a direitos trabalhistas estar longe de conseguir progressos significativos a curto prazo, a redução de substância químicas no cultivo de algodão é um fato. Talvez a mais conhecida seja a agricultura orgânica. Que apresenta alternativas que incluem os sistemas biológicos para controlar pragas e patógenos, e as fibras geneticamente modificadas, que utilizam a biotecnologia para combater as infestações por pragas e simplificar o controle de ervas daninhas.
Entretanto, é quase impossível inovar quanto ao uso reduzido de substâncias químicas na produção de fibras sem ser atraído para os muitos aspectos comerciais e filosóficos da diferença entre as técnicas transgênicas, por um lado, e o controle biológico de pragas e métodos orgânicos, por outro. Ter clareza sobre essas questões é complicado, devido a carência de pesquisas científicas independentes na eficácia das várias abordagens: hoje, a maioria das pesquisas publicadas nessa área é financiada pela indústria biotecnológica para seus próprios produtos geneticamente modificados.
E as fibras que favorecem os predadores?

O cultivo de lã está diretamente relacionado ao impacto negativo sobre os predadores, pois ao delimitarem as terras para a criação de ovelhas, lhamas e cabras, fragmentam-se os caminhos e os territórios de migração de outras espécies, como, lobos, ursos e pumas. Além, do uso de armas de fogo por parte dos criadores e ovelhas, para proteger seu "rebanho", ou melhor dizendo, seu "dinheiro".
Contudo, formou-se nos EUA um movimento nacional com o objetivo de integrar melhor a agricultura e a criação de animais aos ecossistemas vizinhos. Esse projeto, interliga terras cultivadas a parques nacionais e a áreas privadas para criar corredores de vida selvagem, beneficiando assim, os predadores.
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