Moda e Sustentabilidade - Capítulo 2: Processos
- Arlete, Carolina, Marcela Oliveira e Priscila
- 2 de nov. de 2015
- 7 min de leitura
O trabalho mais perto da natureza
A abordagem e sustentabilidade quase sempre se manifesta como estereótipo “natural” em tecidos não branqueados e não tingidos feitos de materiais naturais.
Exemplo: O Cocona é feito de cascas de coco que foram recicladas em carvão ativado e o tecido é feito com 55% poliéster e 45% de Cocona. Quando incorporados em fibras e tecidos, o resultado é uma peça de roupa que seca rápido (92% mais rápido do que o algodão), absorve odor, permanece frio no calor e oferece proteção UV, o que o torna ideal para roupas esportivas.
Principios amplos de apoio a boas práticas
Os impactos da produção de tecidos e roupas sobre a sustentabilidade variam de um tipo de fibra para o outro. Os príncipios gerais para a boa prática são:

Recursos Naturais
Renováveis: São todos os elementos do meio natural que, se o homem souber preservar, poderão ser inesgotáveis.
Não renováveis: São todos os elementos do meio natural que se esgotam á medida que vão sendo utilizados.
Branqueamento com uso reduzido de substâncias químicas
Influênciada por amplas campanhas contra o uso de alvejantes á base de cloro na produção de papel. Clorito e Hipoclorito de sódio podem formar compostos orgânicos halogênicos em águas que, comprovadamente, se acumulam em organismos vivos.
O branqueamento é fundamental para os adjetivos de sustentabilidade, pois garante o tingimento adequado já na primeira vez.
Alternativas do Cloro
O cloro já não é muito usado no processo têxtil há cerca de vinte anos. Na União Europeia e EUA usa-se Peróxido de Hidrogenio, conhecido também por “água oxigenada”. O Peróxido de Hidrogenio é considerado o menos agressivo dos oxidantes em lavagens têxtil.
Ozônio: O ozônio é uma opção mais recente de branqueamento que não requer água, afirma-se que, em casos que demadam muito tratamento como no acabamento do brim, pode-se economizar até 80% das substâncias quimicas.
Técnologias enzimáticas
São proteínas capazes de catalizar reações específicas. Faz algum tempo que são usadas nas indústrias têxteis, auxiliando em diversas etapas do processamento até na remoção de fibrilas ou “biopolimento” da superfície dos tecidos.

Imagem 1: O lado esquerdo mostra o tecido cheio de bolinhas. O direito, um tecido macio, sem falhas, devido ao uso de enzimas na produção.
Imagem 2: A esquerda uma malha convencional. No lado direito, a mesma malha com enzimas: Impermeabilidade e conforto.
Tingimento com uso reduzido de substâncias químicas
A cor é um dos fatores mais importantes do apelo comercial no vestuário por ser a maneira mais rápida de mudar de visual e de atrair os consumidores.
A indústria têxtil utiliza cerca de 378 bilhoes de litros de água por ano, portanto é importanteconhecer e entender o limite dos ciclos hídricos naturais e sua relação com usos industriais como o tingimento na hora de escolher as cores dos tecidos.
A ecologia de um banho de tingimento
Na última década não surgiu nenhum corante ou cor específica que se destacasse pelo maior ou menor impacto ambiental, exceto por alguns tons de azul e verde, que requerem o uso de cobre, metal pesado ligado à produção de efluentes tóxicos, e as cores mais escuras, que possuem baixa taxa de exaustão. Os corantes reativos, mais usados para fibras a base de celulose, têm as taxas de fixação mais baixas.
O volume de corantes e aditivos químicos é calculado com relação ao volume de água utilizado. Essa proporção é conhecida como razão de banho e pode variar dependendo do equipamento de tingimento, embora o padrão da indústria seja 12:1, alguns equipamentos chegam a 20:1, enquanto os sistemas mais eficientes podem requerer apenas 5:1.
A ecologia de uma tinturaria
O processo de tingimento, mesmo com todos os avanços, continua linear: os recursos chegam, são processados e eliminados. Em algumas instalações a possibilidade de reutilização do banho são limitadas, porém em tintutarias como as de jeans e uniformes, que utilizam cores repetidas, a recuperação dos banhos é um procedimento simples, onde são adicionados produtos químicos para renová-los e permitir que sejam utilizados pelo menos seis vezes antes que a qualidade de tingimento seja prejudicada.

A ecologia da região (ou bacia-hidrográfica)
Ao mesmo tempo em que os processos de tingimento dependem do meio natural, são também limitados por ele. Enquanto as empresas podem, por si só, usar tratamentos de limpeza de água, com a colaboração de outras entidades públicas e privadas do local onde a empresa se encontra, seria possível ampliar essas ações com sistemas avançados. Assim, a água tratada é reciclada e devolvida a tecelagem, em um ciclo fechado sem contaminação externa.

Cor sem tingimento
A cor é um dos aspectos mais vitais e visualmente estimulantes da moda. A cada estação é desenvolvida uma paleta de cores com uma harmonia vinda da inspiração do designer.
Para obter a cor em um tecido ou peça de vestuário sem uso de corantes é preciso pesquisar explorações criativas: no longo prazo, usar fibras naturalmente coloridas contribui muito mais para a sustentabilidade do que escolher corantes de baixo impacto.
Variações regionais de cor
A cor natural é indicação do lugar e também da fibra têxtil; as cores também refletem os padrões climáticos. A cor natural conecta-nos mais com as pessoas, a terra e as economias locais.
A designer de moda Eloisa Grey usa tecidos da Ardalanish em suas coleções e afirma que as cores naturais são as que mais atraem seus clientes.
Corantes naturais
São muitas vezes criticados pela indústria, pois a disponibilidade de matérias–primas é limitada e, em consequência, é difícil garantir a repetição das cores e sua reprodução em larga escala. Com corantes naturais, o propósito em geral não é atender aos padrões que a indústria impõe a si mesma, é acima de tudo, trabalhar dentro dos limites da natureza e adaptar a criatividade e a prática conforme necessário.

Mudança no panorama cultural para os corantes naturais
Com o crescente interesse por sustentabilidade, inovações técnicas começam a diluir as diferenças entre objetivos industriais e artesanais, e entre o que é corante natural e o que é corante sintético. Mais plantas produzidas por hectare e mais extrato produzido por planta começam de novo a impor sobre a natureza metas industriais de interesse humano.
Exemplo: Sasha Duerr usa plantas da região em vez de extratos, ela está diretamente envolvida com o ciclo de plantas, sua disponibilidade sazonal e suas possibilidades de cores. Como um chef “orgânico” planeja menus conforme os alimentos da estação que se pode obter em sua região.
Desperdício mínimo de corte e costura
Os designers de moda podem trabalhar com moulage ou moldes planos já prevendo a silhueta. Na indústria, o sistema de design e desenvolvimento está configurado para a “eficiência” industrial e para maximizar os resultados da idéia original. Muitas vezes quem calcula o melhor aproveitamento no corte é o CAD (hoje usado em toda a indústria da moda) do fornecedor. Toda a redução de sobras obtidas com o CAD é invisível no produto final; designer e consumidor não percebem as economias ou os impactos ecológicos.
Novos conceitos na redução de resíduos
Nos últimos anos, em relação às sobras na etapa de corte, surgiram conceitos de design com foco na sustentabilidade que vão desde usar os restos de pano em peças feitas de retalhos até recicla-los como novos fios. Essas técnicas mostram que no talento e na habilidade prática dos designers, no contexto da sustentabilidade, é que estão a promessa real e os promotores de mudanças.
Exemplo: Timo Rissanem usa uma abordagem no design e no corte de moldes que descreve como quebra cabeça. Isso aumenta efetivamente a quantidade de material usado no design de uma roupa, sem elevar o custo.
Questões de trabalho justo e digno na etapa de corte e costura
O papel das ONGs e dos movimentos trabalhistas
Vários fatores econômicos criaram uma indústria têxtil global cheia de oportunidades para a exploração da mão de obra e, como consequência, a responsabilidade do bem-estar dos trabalhadores recaiu sobre os fornecedores.
Porém, o controle e monitoramento sobre essas condições estão sujeitos à corrupção e manipulação. Violações de direitos continuam endêmicas na indústria da moda, sobretudo em trabalhadores domésticos e subcontratados. Para garantir transparência nesses processos, ONG’s e grupos ativistas usam técnicas de denúncia na imprensa. A Clean Clothes Campaing é um exemplo de ONG que impulsiona o desenvolvimento de códigos de conduta corporativos.
Parcerias entre ONGs e corporações
Afim de melhorar as condições de trabalho e de impulsionar mudanças eficazes para as fábricas, empresas criam parcerias entre ONG’s, de modo a criar padrões a serem transformados em leis, harmonizando o setor como um todo.
Estratégias de design para condições de trabalho justas e dignas
O designers também podem contribuir para que esses esforços ganhem impulso - cumprindo prazos e criando ideias inovadoras para agregar valor às peças com baixo custo - iniciativa que pode aliviar a pressão financeira sobre os operários das fábricas.
Metais e aviamentos de baixo impacto
Apesar de os aviamentos serem uma parcela minúscula de um produto, agregam um impacto ecológico significativo a peça. As indústrias mineiradoras e petroleiras participam do aquecimento global, contaminação do solo, emissões tóxicas no ar e contaminação da água.
Ainda que a sua fabricação cause problemas, os aviamentos tornam a reciclagem das peças mais difícil, além de demorarem para se decompor. Peças que poderiam ser recicladas, na maior parte das vezes que contém aviamentos, são descartadas.
Galvanoplastia
A galvanoplastia é um processo onde, para evitar a oxidação de um metal base, ele é revestido com outro inoxidável. Esse processo consiste em mergulhar as peças em tanques que contém soluções de sáis metálicos; uma corrente elétrica atravessa a solução para que íons metálicos depositem-se nos aviamentos.
A água advinda das lavagens que ocorrem durante esse processo, é contaminada por diversos componentes químicos tóxicos, que podem destruir a ação biológica em estações de tratamento de esgoto e também são tóxicos para espécies aquáticas.
O lodo gerado pela produção de aviamentos de metal deve ser tratado e descartado em aterros sanitários especialmente revestido.
Alternativas à galvanoplastia
Existem ligas metálicas inoxidáveis disponíveis em lâminas que oferecem ampla gama de cores. A utilização dessas ligas elimina os resíduos na fonte, ao invés de eliminar os contaminantes no ambiente ao fim da galvanização.
Quando o designer especifica o uso de aviamentos não galvanizados, ele contribui para que as empresas invistam nesse tipo de aviamento.
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